Em setembro acontecerá o julgamento sobre o caso da médica Sáttia Lorena de Sr. do Bonfim

Foto: Reprodução/ Redes sociais

O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) informou que uma audiência de instrução e um julgamento do caso da médica Sáttia Lorena Patrocínio Aleixo, foram marcados para 26 de setembro deste ano de 2022. O médico Rodolfo Cordeiro Lucas é investigado por tentativa de homicídio após Sáttia, na época companheira dele, cair do 5° andar do prédio onde o casal morava, durante uma briga, em 2020.

De acordo com o TJ-BA, na audiência e julgamento, serão ouvidas as testemunhas de acusação, depois a defesa do acusado e o réu. A informação foi confirmada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA).

Em nota, a defesa de Rodolfo Lucas informou que a audiência de instrução designada não é o júri popular, e que acredita que o médico não passará pelo procedimento porque o cliente não cometeu crime algum.

Segundo a denúncia do MP-BA, no dia 20 de julho de 2020, por volta das 0h30, Rodolfo Cordeiro, após agredir fisicamente Sáttia Lorena, empurrou-a na direção da janela do quarto do casal do apartamento onde viviam. O imóvel fica no 5º andar do Edifício Serra do Mar, no bairro de Armação.

Conforme descrito no documento, o suspeito teria forçado para que as mãos da médica, que as mantinham dependurada na janela, se soltassem, o que provocou a queda de uma altura de 15,5 metros. Sáttia ficou ferida e precisou de internação em unidade médica.

O promotor de Justiça Davi Gallo, responsável pelo caso, afirmou que o motivo do crime foi torpe, pois a “ação criminosa foi precedida de ameaças pelo agressor em face da vítima, reiterados momentos antes do desfecho trágico, e as quais decorreram do sentimento de posse e da não aceitação da ruptura do relacionamento pelo agressor”.

Davi Gallo complementou que a vítima não teve qualquer chance de defesa, pois foi enforcada e agredida pelo denunciado, “desvencilhando-se em determinado momento” e permanecendo em pé em cima da cama do quarto do casal.

Nesse momento, de acordo com o promotor, Sáttia, acuada, teria sido empurrada pela janela e tido suas mãos desprendidas (quando tentava se segurar) pelo denunciado e a queda ocorreu em seguida.

Depoimento da vítima
Sáttia Lorena Patrocínio Aleixo disse em depoimento à polícia que, no dia da queda, Rodolfo Lucas falava que “ia acabar com a vida dela”. A informação consta em documentos do segundo depoimento de Sáttia, que foram obtidos com exclusividade pela TV Bahia.

Sáttia prestou um depoimento ainda no hospital, mas não se recordava de detalhes do dia do ocorrido. Após deixar a unidade de saúde, ela prestou o segundo depoimento, no dia 28 de setembro de 2020.

Na ocasião, Sáttia contou à polícia que, no dia 20 de julho de 2020, quando caiu da janela do apartamento, lembrou que Rodolfo estava segurando o pescoço dela, ameaçando cortar o rosto dela e dizendo que iria acabar com a vida dela.

Durante a semana, antes da queda, Rodolfo teria feito ameça semelhante ao dizer que se ela terminasse o relacionamento, ele acabaria com a vida dela. Conforme consta no depoimento, Sáttia achou que fosse “brincadeira”. No entanto, no dia da queda, ele teria partido para cima dela e repetia: “Eu avisei”, conforme relatou Sáttia.

Ela também recordou do momento em que estava na janela. Disse que teria gritado por socorro, falando que não queria morrer, e que Rodolfo soltou as mãos dela. Sáttia negou que tenha tentado suicídio, versão dada pelo suspeito.

Ainda no depoimento, Sáttia revelou que vivia um relacionamento abusivo com o médico. Rodolfo, segundo contou, já a agrediu com puxões de cabelo, socos e já até esfregou um pano no rosto dela para retirar a maquiagem que ela usava.

Sáttia falou também que sofreu, no relacionamento, agressões psicológicas e físicas. Durante uma briga, ela detalhou que sofreu um corte ao ser empurrada por Rodolfo.

Segundo a médica, Rodolfo estava acostumado a usar medicamentos psicoestimulantes e antidepressivos, insistindo para que ela também os tomasse.

Ela contou que não lembra do momento em que recebeu socorro, apenas se recordava de quando já estava no Hospital Geral do Estado (HGE), primeira unidade de saúde onde recebeu atendimento.

Ao final do depoimento, ela disse que Rodolfo já falava para ela, antes mesmo da queda, que quem tem dinheiro no Brasil sai impune e não sofre as consequências dos seus atos.

Caso
O caso aconteceu na madrugada do dia 20 de julho de 2020, durante uma discussão do casal no prédio onde eles moravam, no bairro de Armação.

Imagens da câmera de segurança mostraram a médica Sáttia no elevador, horas antes de cair do quinto andar do prédio. No vídeo, é possível ver que a médica gesticulava bastante ao telefone, como se estivesse em discussão, por volta das 16h40 do dia 19 de julho.

Após a queda, Sáttia Lorena ficou em coma induzido e foi ouvida pela polícia cerca de um mês depois do ocorrido. Segundo a polícia, o trauma que sofreu comprometeu a memória recente da médica.

Rodolfo, companheiro de Sáttia, foi preso em flagrante pelo crime, mas foi solto por decisão judicial.

Além de Sáttia, o suspeito foi ouvido pela polícia. Testemunhas também prestaram depoimentos.

Investigação
A principal suspeita da polícia é de que Sáttia tenha sido empurrada do apartamento por Rodolfo.

Em depoimento na Delegacia de Atendimento Especial à Mulher, o médico negou que tenha jogado Sáttia do apartamento. Disse ainda que ela se dopava e estava depressiva, versão negada pela família da médica. Ele disse à polícia que a médica se pendurou na janela do apartamento e que ele ainda tentou ajudá-la, segurando as mãos dela, mas mesmo assim ela caiu.

Familiares de Sáttia disseram que acreditam que ela foi jogada do apartamento pelo companheiro, e relataram que a médica vivia em um relacionamento abusivo. Uma vizinha do prédio em que Sáttia morava antes de se mudar com o companheiro também relatou que a relação do casal era marcada por brigas e que chegou a ver a médica pedindo socorro.

A irmã de Sáttia disse, em depoimento à polícia, que a médica desabafou sobre humilhações que o médico a submetia. Jacqueline Aleixo afirmou que Rodolfo controlava as roupas de Sáttia e que ela teve que sair da academia de ginástica e desativar redes sociais, por causa do ciúme do companheiro.