Brasil pode ter 3 milhões de portadores da linhagem africana do vírus HTLV-1

Pesquisadores da Fiocruz identificaram no Brasil o vírus HTLV-1, linhagem restrita aos países da África Central. Ainda não há tratamento específico para as doenças associadas ao vírus linfotrópico da célula humana tipo 1,virose que pode ser transmitida sexualmente, de mãe para filho ou pelo sangue.

Estima-se que, no mundo, entre 15 e 20 milhões de pessoas sejam portadoras – calcula-se que até 3 milhões delas estejam no Brasil. O alerta foi feito através de estudo inédito publicado no Journal of Virology. O vírus foi encontrado no Rio de Janeiro pela equipe do Laboratório de Genética Molecular de Microorganismos do IOC, liderada pela pesquisadora Ana Carolina Paulo Vicente, em parceria com o laboratório Sérgio Franco Medicina Diagnóstica.

O estudo também revelou, pela primeira vez, o genoma completo desta linhagem. ” O fato de termos identificado uma linhagem da África Central mostra que a disseminação do vírus está em progresso e a nível global” , explica Ana Carolina. O Brasil tem motivos para se preocupar. Ainda de acordo com a especialista, desde 1992 estima-se que o país tenha o maior número absoluto de infectados do mundo.

Apesar de apenas 5% dos pacientes desenvolverem doenças, ainda não há tratamento específico para estes agravos – ao contrário do que ocorre com o HIV-1, que também é um retrovírus. Dentre os quadros clínicos mais graves, estão a leucemia de células T e a mielopatia associada ao HTLV-1, também conhecida como paraparesia espástica tropical.

Segundo Ana Carolina, a maioria dos portadores costuma descobrir a infecção quando doa sangue, pois desde 1990 é obrigatória a realização de triagem sorológica para HTLV nos voluntários. No entanto, a especialista defende que a vigilância epidemiológica do vírus ainda precisa ser aperfeiçoada. ” A comunidade científica vem lutando para que o teste seja incorporado no protocolo de atendimento a gestantes, pois uma das principais formas de transmissão do vírus é de mãe para filho e, principalmente, pela amamentação, o que poderia ser facilmente controlado” , adverte a pesquisadora.

Com informações da Agência Fiocruz