Mais da metade dos municípios da Bahia sofre com a seca prolongada

Caso não chova nos próximos três meses, cerca de 80 cidades correm o risco de ficarem sem água para beber

A seca que atinge a Bahia nos últimos seis anos levou mais de 210 municípios a decretarem situação de emergência no estado. A falta de chuva está reduzindo a produção agrícola, deixando a população com sede e matando os animais. Há cinco anos a Bahia registra chuvas abaixo da média e, segundo os especialistas, não há previsão de quando a situação vai melhorar.

Em janeiro deste ano, o CORREIO enviou correspondentes para a região e fez uma série de reportagens sobre a seca que resultou em um documentário sobre o assunto.

Em Morrinhos, o vaqueiro José Antônio de Jesus, 65, alimenta o gado com mandacarú
(Foto: Mauro Aki Nassor/ Arquivo CORREIO)

Segundo o superintendente de Proteção e Defesa Civil da Bahia, Paulo Sérgio Luz, o estado já homologou o decreto de situação de emergência de 101 municípios. A seca se intensificou entre os anos de 2011 e 2012 e o problema está se agravando por conta da estiagem prolongada.

“Na próxima semana vamos publicar um decreto com mais 113 municípios que estão em situação de emergência por conta da seca. O problema ganhou notoriedade nos jornais em 2012, mas, desde então, só tem piorado. A falta de chuva reduziu a produção agrícola em mais de 80% e afetou a atividade pecuária de bovinos, ovinos e caprinos. É grave”, afirmou.

Moradores do interior do estado sofrem com a falta de água (Foto: Mauro Akin Nassor/ Arquivo CORREIO)

A região do semiárido é a mais afetada. De acordo com a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Cláudia Valéria, essa região do estado tem um ciclo de chuvas diferente da região litorânea.

“Enquanto em Salvador o período de chuva é entre abril e junho, por exemplo, nessa região é o contrário: esse é o período de seca. As chuvas acontecem entre novembro e março, ou até a primeira quinzena de abril, mas o que temos notado nos últimos cinco anos é que elas estão acontecendo sempre abaixo da média”, afirmou.

A pecuária está sendo prejudicada com a morte dos animais por conta da seca
(Foto: Mauro Akin Nassor/ Arquivo CORREIO)

Clima anormal
Cláudia Valéria explicou que em 2016 a seca na Bahia foi intensificada por alterações na temperatura provocadas por um fenômeno climático chamado de El Niño. Ele provoca o aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical e altera o clima das regiões temperadas.

A meteorologista informou que a influência do El Niño passou, mas os primeiros meses de 2017 ainda registraram chuvas inferiores ao esperado. “Janeiro, fevereiro e março tiveram chuvas abaixo da média”, afirmou.

População de cerca de 80 cidades corre o risco de ficar sem água para beber
(Foto: Mauro Akin Nassor/ Arquivo CORREIO)

A seca prolongada e a baixa estiagem provocaram danos em muitos municípios. Segundo o superintende de Defesa Civil, se não chover nos próximos 90 dias cerca de 80 cidades baianas correm o risco de ficarem sem água até para beber.

“A estiagem coincidiu com o aumento na temperatura do planeta, o que vem acontecendo nos últimos dez anos. Está mais quente, então, as pessoas, as plantas e os animais consomem mais água. É normal que algumas cidades decretem situação de emergência durante os seis meses de estiagem, mas muitas delas já estão em emergência no período que ainda deveria ser de chuva”, afirmou.

A seca castiga a região há 6 anos
(Foto: Arisson Marinho/ Arquivo CORREIO)

Soluções temporárias
Dos 101 municípios que tiveram os decretos de emergência homologados pelo estado, 85 já foram reconhecidos pelo Governo Federal. Atualmente, o Exército brasileiro está atuando em 138 municípios da Bahia, usando 1.158 carros-pipa para abastecer 815 mil baianos.

Outros 68 municípios também recebem carros-pipas para auxiliar no abastecimento, através de uma parceria entre os governos estadual e federal. Em média, são quatro veículos por cidade mais os carros do próprio município.

Segundo a Defesa Civil, a agricultura familiar é a área mais prejudicada e os agricultores estão dependendo de programas sociais como o Seguro Safra e o Bolsa Família para sobreviver. A instalação de poços artesianos e a construção de cisternas nas residências são algumas das ações paliativas adotadas para amenizar o problema.

A questão da seca atraiu a atenção de especialistas e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea) vai realizar um fórum “para debater alternativas a essa realidade”, no próximo dia 17 de março, no Espaço Cultural Arlindo Fragoso, na Escola Politécnica da Ufba. O objetivo é que palestrantes nacionais e internacionais discutam o problema. Essa será a segunda edição do Programa Agenda de Desenvolvimento Bahia.

Fonte: Correio24horas