Mulher de 113 anos de idade Dança Forró

Olhar sensual, passos cadenciados, temperamento aparentemente calmo, sorriso esparso e esvoaçante. Essas são algumas das características que facilmente se deixam perceber na nordestina Luiza Ribeiro da Silva, agraciada com o pseudônimo dePrincesa. Nascida em 20 de novembro de 1901, na comunidade Pindaíba, município de Mirador Maranhão e atualmente residente na comunidade Mato Grosso, município deLoreto Sul do Maranhão; Princesa fascina qualquer um com a luz dos olhos, e mais ainda com o tom da pele, de negritude viva e traços indígenas marcantes.

Princesa nunca casou, teve apenas uma filha que morreu no sertão por mordida de cobra. Mora com João Evangelista, um neto que já possui 59 anos de idade. Devota de Santo Antônio, a mulher magra de 113 anos de idade orgulhosamente afirma: “fui criada dentro da roça”. E quando questionada sobre o segredo de viver mais de um século, os familiares antecipam a resposta: “ela sempre gostou da beira do fogo”. Nesse caso, eles relacionam a longevidade ao calor do fogo de monturo. Se trata de um costume do sertão nordestino onde as pessoas, para amenizarem o frio na madrugada, acendem um fogo no terreiro e esquentam-se. Contrariando o senso comum de que o fumo e a bebida encurtam a vida, Princesa fuma em um cachimbo (em média 03 vezes ao dia) já a mais de um século. A nordestina arretada gostava de uma cachaça pura, mas nos diz que deixou de beber a seis anos. Curiosamente ela nunca foi internada em hospital, pois nunca adoeceu a ponto de ter essa necessidade.

Princesa caminha pela vizinhança tranquila e sem necessidade de bastão; amante de carne assada, levanta sempre às cinco horas da manhã para assistir a Tv ou para se esquentar no fogo. “Não faço mais por que meu povo não deixa”. A frase expressada com muita convicção por Princesa mostra o espírito de disposição de uma mulher que nunca quis se submeter à suposta superioridade masculina, preferindo viver com suas próprias forças a partir de um dos aspectos fundamentais da vida da pessoa: o trabalho.

Mas como a vida não é só trabalho, Princesa gosta de dançar; seu ritmo preferido é o forró. Parece que os mais de cem anos de idade deixaram seu corpo mais leve. Ela dança forró com muita energia e principalmente com alegria. Eu tive o prazer de dançar com ela e depois fotografá-la dançando com seu “netinho” de quase 60 anos. Talvez seja por isso que Princesa diz que não tem medo de morrer: “não tenho medo de morte, depende da vontade de Deus” diz ela e em seguida esparrama um sorriso estridente e contagiante.

A história da nordestina Luiza Ribeiro da Silva talvez nos ensine que a arte de viver não é pintada, dançada ou tocada da mesma forma: cada um deve achar os acordes que se encaixam na sua voz, o tom e o ritmo próprios. Mas uma coisa parece servir a todos: na hora de cantar é preciso jovialidade, não importa a idade que você tenha.

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