Boletim do Ministério da Saúde mostrou que cerca de 260 mil brasileiros sabem que estão infectados por HIV, mas não realizam o tratamento (veja aqui). Como estão esses números na Bahia?
Na Bahia, em junho, tínhamos aproximadamente 70% das pessoas vivendo com Aids em tratamento. Os serviços estão envidando esforços para trabalharem junto a esses pacientes que não estão em tratamento, visando verificar a razão e tentar sanar as dificuldades para a adesão. O tratamento para HIV/Aids está disponível na rede SUS, assim o acesso é gratuito.
Qual seria o principal motivo para que pacientes com diagnóstico de HIV/Aids não busquem tratamento?
Existem vários motivos para que as pessoas diagnosticadas não realizem o tratamento, entre eles estão a não aceitação do diagnóstico, medo de sofrer estigma, preconceito ou discriminação, no momento do diagnóstico as pessoas não têm nenhuma doença e acham que não há necessidade de usarem a medicação. Em alguns locais, ainda pode existir dificuldade de acesso. O medo de sofrer estigma, preconceito ou discriminação faz com que comunicar o diagnóstico para outras pessoas do convívio social e familiar seja uma decisão difícil, cujo ato, muitas vezes, ainda é evitado e adiado. Nessa perspectiva, pessoas que descobrem a soropositividade veem-se diante de dúvidas e dilemas; se vale a pena, como, quando e para quem comunicar sobre o diagnóstico. O segredo sobre o HIV pode ter impacto negativo na adesão ao tratamento, na medida em que a pessoa receia que terceiros desconfiem de sua soropositividade ao descobrirem que usa determinados remédios, por exemplo. Assim, esconder o diagnóstico pode significar deixar de fazer muitas coisas do próprio tratamento, como exemplo, ir às consultas, fazer exames, pegar os medicamentos e tomá-los nos horários e doses recomendados. Portanto, assumir a condição de pessoa vivendo com HIV/Aids e compartilhar o diagnóstico com pessoas de confiança do convívio sócio familiar, podem favorecer a adesão adequada e o autocuidado.
Como é o processo para realizar tratamento contra HIV? Onde o paciente pode buscar ajuda?
O primeiro passo é o diagnóstico. O diagnóstico pode ocorrer na rede pública ou na privada. O SUS oferece esse atendimento gratuito na rede básica de saúde. Com o diagnóstico positivo o usuário deverá ser encaminhado para os Serviços de Atenção Especializada (SAE) que estão distribuídos tanto em Salvador quanto no interior. Nesse caso, os municípios conhecem a Rede de Referência e faz esse encaminhamento para o SAE de sua abrangência, ou seja, para o serviço mais próximo da residência do usuário. Após o atendimento o tratamento deve ser iniciado imediatamente.
Como está a Bahia no cenário da estratégia 90-90-90? Os números alcançados até agora são satisfatórios?
A Bahia tem até 2020 para atingir a meta 90-90-90 estabelecida. A meta consiste em ter 90% das pessoas com HIV diagnosticadas; deste grupo, 90% seguindo o tratamento; e, dentre as pessoas tratadas, 90% com carga viral indetectável. Ainda não temos com medir o impacto da meta 90-90-90. Assim no contexto da implantação da estratégia (meta) 90-90-90: quanto 90% das pessoas testadas temos um aumento de unidades realizando os testes, ou seja, facilitando o acesso para as pessoas testarem; quanto a 90% destas tratadas e 90% das pessoas tratadas com carga viral indetectável, estamos empreendendo esforços para o alcance das metas; aumentamos o número de serviços assistenciais e de unidade dispensadoras de medicamento. E temos incentivado o trabalho com adesão. Ainda precisamos avançar muito.
O que a senhora vê como o principal impedimento, por parte do sistema, para que as pessoas busquem ajuda? O que precisa ser melhorado?
Precisamos falar mais sobre o tema, nisso, incluo os meios de comunicação, colocar a importância da realização do diagnóstico precoce e, se resultado o resultado for positivo, início imediato do tratamento. Dar pauta para falar de prevenção. Precisamos melhorar o acesso, mas é necessário levar em conta que às vezes ter a informação e ter o serviço não é sinônimo de mudança de atitude ou de ação por parte dos sujeitos envolvidos.