Dirigido pelo baiano de Jequié, Dado Galvão, o documentário “Missão Bolívia”, que narra o resgate do senador boliviano Roger Pinto Molina, asilado por mais de um ano no prédio da embaixada brasileira em La Paz, depois de denunciar o envolvimento de líderes do governo do seu país com o narcotráfico, está disponível na íntegra no Youtube. Em cerca de duas horas, Dado, que ganhou projeção nacional ao assinar a direção do filme “Conexão Cuba Honduras” (2012), e trazer a blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil, conta com detalhes, através de notícias, entrevistas e declarações, o processo para entrar em contato com Molina e a operação secreta realizada pelo diplomata Eduardo Saboia para trazê-lo ao país, mesmo sem o consentimento das autoridades brasileiras. O filme foi realizado em parceira com a jornalista Pilar Celi Frias e o fotógrafo Arlen Cezar.
O diretor, que também é ativista, teve interesse pelo caso depois do “Conexão Cuba Honduras”, quando fez muitos contatos e se aprofundou em causas relacionadas a direitos humanos e liberdade de expressão. “Depois desse processo conturbado para trazer a Yoani ao Brasil, conheci muita gente, fiz muito contatos. Então pensei: ‘isso vai acabar e eu preciso contar outra história’. E ai eu estava pesquisando sobre Julian Assange, que estava asilado na embaixada do Equador, em Londres, e acabei descobrindo Roger Pinto. Tinha pouca informação. Eu não sabia que existia um senador asilado na embaixada do Brasil na Bolívia. Li uma matéria da Folha de São Paulo, onde o jornalista dizia que tinha ido a La Paz, mas que o governo brasileiro não permitiu que ele tivesse acesso ao senador. Então fiz o paralelo: ‘que coisa estranha, o Assange está na embaixada do Equador em Londres e recebe jornalistas, deu até espécie de coletiva na sacada do prédio’. E ai fiz uma comparação. Pelos direitos e tratados internacionais ele estava em território brasileiro, então ele deveria ser tratado conforme nossa Constituição.”, conta Galvão, que passou a investigar mais de perto o isolamento do político boliviano.
Já sabendo da dificuldade para entrar em contato com Molina, exilado brasileiro e considerado fugitivo da justiça boliviana, antes de viajar para La Paz, Dado Galvão faz um requerimento para o Itamaraty, pedindo autorização para realizar a entrevista. “Eu já sabia que seria negado, mas mesmo assim resolvi questionar isso e estar documentado”, conta o diretor. A partir daí Dado bateu em várias portas, entre políticos brasileiros, advogados e diplomatas, mas não conseguiu autorização para falar com Molina. “Começamos a fazer gestões na Bolívia, eu já tinha falado com a filha de Molina, que falou das condições em que o pai vivia na embaixada, um exilado que tinha menos direitos que presos comuns. Como forma de protesto, eu e o fotógrafo Arlen Cezar, parceiro no documentário, entregamos nosso passaporte com uma carta ao ministro das relações exteriores Antonio Patriota, dizendo que a Constituição brasileira estava sendo violada, pelo fato de não termos acesso ao senador” lembra Galvão.
Sem sucesso no país vizinho, ele retorna ao Brasil e busca ajuda jurídica para conseguir entrevistar o senador Roger Pinto Molina. “Descobri que não só era possível pedir a autorização judicial, como também obrigar o governo colocá-lo em um avião ou carro diplomático e trazer para o Brasil, mesmo sem ter salvo conduto das autoridades bolivianas, e ai ele desenvolve a tese de habeas corpus extra territorial, que seria apreciado pelo STF”, revela o diretor baiano. A reviravolta se dá antes da apreciação do caso, porque o diplomata Eduardo Saboia quebrou a hierarquia e, às margens das autoridades superiores, retirou o senador Molina de La Paz, e o levou para a cidade fronteiriça de Corumbá, em um carro diplomático brasileiro.
O documentário, que tem entrevistas do próprio senador boliviano Roger Pinto Molina; do advogado Fernando Tibúrcio; dos diplomatas Eduardo Saboia, Marcel Biato e Jerjes Talavera; dos ex-presidentes bolivianos Carlos Mesa e Jorge Quiroga, além dos senadores brasileiros Ricardo Ferraço, Alvaro Dias e Sérgio Petecão, está disponível na internet e conta todo o processo, incluindo a atual situação de Molina e dos envolvidos no caso.
Veja o filme “Missão Bolívia”:
Dado Galvão planejava fazer a estreia em parceria com o jornal Estado de São Paulo, no mês de agosto, mas, de acordo com ele, a exibição foi abortada porque o veículo paulista alegou necessidade de cortes de custo. Após tentativas frustradas para a exibição do documentário, o diretor decidiu dispor na íntegra, através do youtube, e segue aberto a proposições de pessoas ou grupos interessados em discutir o tema e exibir o filme.