Em entrevista Daniel Alves fala sobre os 10 anos de seleção, novo momento na carreira e o Bahia

Baiano de Juazeiro será o capitão do time de Tite no duelo contra a Argentina, na noite desta quinta-feira (10), no Mineirão

A personalidade forte é uma das marcas que o lateral-direito Daniel Alves carrega. Desde o juvenil no Juazeiro, passando por Bahia, Sevilla, até explodir no Barcelona. Hoje na Juventus, o juazeirense,  33 anos, completou, em outubro, dez anos defendendo a Seleção Brasileira, marca alcançada por apenas 46 jogadores na história.

É também o brasileiro que mais levou títulos na carreira, com 32 taças, sendo o terceiro no mundo, atrás do galês Ryan Giggs (36) e do português Vitor Baía (35), já aposentados. Às vésperas do clássico contra a Argentina, Daniel conversou com exclusividade com o CORREIO. Falou sobre a Seleção, as mudanças com a chegada de Tite e o desejo de voltar a vestir a camisa do Bahia.

São dez anos de Seleção. O que mudou do Daniel que entrou no intervalo do jogo contra o Kuwait, em 2006, para o que entra em campo contra a Argentina?

Acho que não mudou muita coisa, só acrescentou. As experiências, vivências positivas. Sempre tive o sonho de representar meu país um dia na Seleção principal, fazer uma carreira sólida dentro da equipe, dentro da Seleção, e graças a dedicação, a um grande trabalho, acabei conseguindo. São dez anos, 100 jogos na Seleção Brasileira, uma marca que poucos conseguiram atingir, eu me sinto muito privilegiado por isso.

A Seleção está em um processo de mudança desde que Tite assumiu e vem de bons resultados na Eliminatória. De volta ao Mineirão, o 7×1 ainda assusta?
Não. Foi uma fatalidade. Outras circunstâncias, outros jogadores, outro momento. Acredito que isso vai ficar marcado para a gente, mas, como sempre falo, o passado é passado e temos que viver o presente. E o presente é que estamos em um grande momento, mas se trata de um clássico. Ninguém é  favorito por estar em um grande momento e ninguém é menos favorito por não estar num grande momento.

Contra a Argentina, Daniel faz o seu jogo de número 99 com a camisa da Seleção Brasileira
(Foto: Pedro Martins/Mowa Press)

Tite chegou na Seleção há pouco tempo e percebe-se uma mudança no astral do grupo. O ambiente hoje já é melhor?
Não só com a chegada do Tite, mas o momento é outro, é diferente. Não adianta ter o Tite ou qualquer outro treinador e os resultados não serem satisfatórios. Evidente que quando existe esse bom trabalho, uma boa energia, essa conexão, o resultado é sempre favorável, mas é uma junção de tudo isso.

Dá para comparar Tite aos grandes técnicos da Europa?
Sem dúvida alguma. Não vale só você ser um grande treinador, é preciso ser um grande gestor. Isso ele tem. É bastante parecido com um grande treinador com quem trabalhei, que é o Guardiola. Quando você trabalha com muitas pessoas diferentes, precisa ter essa sensibilidade de poder gerir mundos, que vai te dar coisas superinteressantes para você poder conquistar os resultados, inevitáveis quando se junta tudo isso.

No final do ano passado, você fez críticas à CBF e revelou que Guardiola desejava treinar a Seleção. Naquele momento, você achou que as portas da Seleção se fechariam de vez para você?
Eu sempre sou e quero ser responsável e não escapo das minhas palavras e das minhas atitudes. O meu objetivo, deixei muito claro, era o objetivo de todo o brasileiro, de ver a Seleção bem, em um bom momento. Ver o povo brasileiro empolgado com a Seleção novamente, como eu fui quando era criança, e não necessariamente porque tenho a Seleção perto de mim. Não foi uma crítica direcionada só a esse ou aquele. Simplesmente, achava que ele (Guardiola) poderia ajudar a Seleção a conseguir seus objetivos.

Daquele momento para cá, consegue ver mudanças na CBF?
Sem dúvida. A Seleção, desde a chegada do Tite, do Edu (Gaspar, coordenador) evoluiu bastante. Hoje, nós estamos muito bem representados pelo nosso coordenador,  nosso treinador, e isso transforma as coisas. É preciso estar bem institucionalmente e no que a gente leva para dentro de campo. Se estiver desastroso ou ruim fora, vai refletir igual lá dentro. Acredito que quando se forma uma grande equipe, tem que estar todo mundo conectado, pensar parecido e fazer o seu melhor.

Ao sair do Barcelona pra Juventus, você imaginava uma adaptação tão rápida?
Tem diferença entre o espanhol e o italiano, mas o futebol ele é similar em todas as partes do mundo, com filosofias diferentes. Na Itália, se tem uma filosofia muito tática, muito mais defensiva e organizada do que na Espanha. Fui para a Itália com um objetivo, de ser melhor profissional do que eu era na Espanha. Agregar a parte ofensiva da Espanha, juntar a parte tática da Itália. Não tem outro caminho, sempre tenho que ser melhor, batalho para isso, ser sempre um melhor profissional e dar uma continuidade a minha carreira sólida. São muitos anos sendo o meu pior crítico, tentando melhorar a cada dia e sem passar por cima de ninguém, encarando a profissão como tem que ser. Isso tem dado os frutos que hoje eu colho e eu estou muito feliz pela solidez da minha carreira.

Aos 33 anos, você já planeja o retorno ao Brasil?
Eu tenho pretensões de um dia, antes de encerrar minha carreira, poder retornar, em forma de agradecimento. Mas, pelo momento, só quero me esquentar com as coisas que eu vivo diariamente, que tenho a viver. Acredito que ainda tem muita coisa para acontecer na minha carreira, na minha vida profissional.

Apesar de ainda não passar pela sua cabeça o retorno ao Brasil, o Bahia seria uma das opções?
O Bahia é a minha casa, mora no meu coração. Já falei em outras oportunidades que quando eu for encerrar a minha carreira, vai ser no Bahia. Como forma de agradecimento. Uma equipe que me deu a chance de ser um jogador de futebol, onde tudo começou. Não devo nada ao Bahia, que fique claro, mas eu vivi um momento muito, muito lindo no Bahia e seria um grande prazer viver mais momentos bonitos com a nação tricolor. Vai ser uma felicidade poder acabar a minha carreira onde tudo começou. Espero que isso aconteça.

Pensa em seguir no futebol no futuro, como técnico ou dirigente?
Não gosto de fazer planos, mas, no momento, acho que não vou trabalhar no futebol.  Não devo ficar ativamente, mas não tem como não estar relacionado. Minha vida foi o futebol e até que eu exista vai ser assim, sabendo que eu sou uma pessoa muito polifacética, gosto de fazer muitas coisas. A minha vida é como a música do Zeca Pagodinho: ‘deixa a vida me levar’. Que a vida me leve e eu vou me preparando para onde quer que ela me leve, para não ter nenhuma surpresa quando as coisas acontecerem.

Fonte: correio24horas