Somos tratados como bichos”: familiares de detentos do Conjunto Penal de Juazeiro anunciam manifestação de protesto contra supostas irregularidades na unidade

 

Familiares de detentos do Conjunto Penal do município de Juazeiro, no Norte da Bahia, em contato com nossa redação, informaram que estão organizando uma manifestação de protesto contra supostas irregularidades na unidade prisional. O grupo não revelou o dia da manifestação, e garantiu que “será uma manifestação pacífica”.

“Combinamos de nos vestir de branco, que simboliza a paz, pois o nosso objetivo é chamar atenção da direção e dos órgãos, para a desumanidade que estão cometendo com nós familiares e com os detentos que lá estão. Queremos que o MP, que a Justiça, o Conselho dos Direitos Humanos olhem por nós”, disse uma das integrantes do grupo.

De acordo com ela, mulher de um detento, que preferiu não ser identificada, os familiares estão sem notícias dos presos desde fevereiro deste ano, quando as visitas foram suspensas para evitar a proliferação do novo coronavirus.

“Entendemos a importância das medidas de segurança contra a Covid-19, mas temos direto a ter pelo menos notícias dos nosso familiares. Também não sabemos quando as visitas serão retomadas. Desde fevereiro buscamos informações e nunca temos respostas. Quando ligamos para saber de notícias, batem o telefone em nossa cara. Lá não tem serviço de assistência social, como nos demais presídios. Se tem, não cumpre seu papel. São três meses sem falar com nossos familiares e com muita saudade e angústia por não saber o que está acontecendo com eles, como eles estão. Além disso, também não estamos conseguindo entregar para eles o material de uso pessoal, como sandálias e cuecas”, declarou.

Ainda de acordo com ela, durante a manifestação os familiares dos detentos também vão reivindicar mudanças na gestão do CPJ, atualmente feita pela empresa Reviver Administração Prisional Privada.

“A Reviver está há anos na gestão do presídio de Juazeiro. Outra empresa precisa entrar para que tenha melhorias. Tanto os detentos, como nós familiares somos constantemente humilhados no Conjunto Penal. Nos tratam como bichos. Quando temos o direito à visita não podemos entrar com nada, nem com uma água mineral ou algum alimento. Sabemos que em outras unidades é comum as visitas levarem um almoço para os presos aos domingos, mas aqui não pode levar nada. Temos que beber a água de lá, sem sabermos sequer a procedência, e muitas vezes dividir a comida quase crua que eles dão aos presos. Eu, por exemplo, já passei mal porque não moro em Juazeiro e tive que passar praticamente o dia todo sem me alimentar direito para conseguir visitar meu marido. Além disso, muitas de nós mulheres levamos crianças para as visitas, mas eles (funcionários), também não permitem que a gente leve lanche e até fraldas para essas crianças. São muitas irregularidades, muita desumanidade também. Já fizemos diversas denúncias e a situação nunca melhora. Não merecemos passar por isso e nem eles, pois já estão pagando pelos erros que cometeram”, finalizou.

O Conjunto Penal de Juazeiro foi construído para abrigar os presos provisórios da Comarca de Juazeiro e condenados nos regimes fechado e semiaberto de diversas cidades da região, de forma excepcional. Até fevereiro, o excedente populacional do regime fechado era superior a 150% (o PNB não conseguiu, junto a administração, dados atualizados).

O PNB está encaminhando a reclamação para Manoel Tadeu, diretor da unidade prisional, e também para a Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP-BA).

Da Redação PB