O império infantil construído por Luccas Neto

 

É provável que você conheça Felipe Neto. Com 44 milhões de seguidores, ele foi considerado uma das cem pessoas mais influentes do mundo em 2020, pela revista Time, principalmente depois de ter um vídeo publicado pelo New York Times criticando o presidente Jair Bolsonaro.

Mas, se você tem crianças em casa, o ídolo da vez é outro: Luccas Neto, irmão mais novo de Felipe e também youtuber. Com 33 milhões de seguidores, Luccas construiu um verdadeiro império de entretenimento infantil. E tudo nos últimos quatro anos.

São dez filmes na Netflix, sendo sete em apenas um ano. Para o cinema, ele tem contrato com a Warner. Tem uma loja virtual exclusiva, a Luccas Toon, com mais de 150 produtos licenciados – seu boneco teve mais de 1 milhão de unidades vendidas. No total, Luccas já vendeu mais de 10 milhões de produtos. Na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2019, seu livro foi o mais vendido do evento, com 25 mil cópias.

No YouTube, é o quinto maior canal do mundo em número de inscritos, que geram mais de 13 bilhões de visualizações. No Instagram, são mais de 5 milhões de seguidores e mais de 4 milhões no TikTok.

Tudo isso está sob o guarda-chuva da Luccas Neto Studios, a empresa que ele criou em 2016, depois de trabalhar assessorando outros youtubers, como o próprio irmão, Whindersson Nunes, Dani Russo e Resende (Rezendeevil).

“Eu amo o que faço. Amo trabalhar com o público infantil, amo internet e amo gerir a empresa”, diz Luccas. Ama tanto que não consegue largar o osso: é ele quem cuida da administração de toda a empresa, que faz os roteiros dos filmes de internet e de streaming, analisa contratos de licenciamento e publicidade, custos, agenda de shows. Diz dormir todo dia às 5 horas e levantar às 9h30. Trabalha nos fins de semana também.

Esse esquema tem dado certo até agora. O faturamento da Luccas Neto Studios, que ele não divulga, cresce ano a ano (ele também não revela a porcentagem). A empresa já tem 110 funcionários e funciona em dois prédios de cinco andares na Barra da Tijuca, no Rio.

Seu décimo filme, que estreou em janeiro nas plataformas digitais no sistema “premium video-on-demand” (é preciso comprar para assistir), teve arrecadação de R$ 2 milhões entre os dias 13 e 31 de janeiro, a maior nessa categoria nacionalmente até agora.

Streaming e internet

Seus filmes não são superproduções. Mas entregam o que prometem: diversão para a criançada. Luccas conta que faz toda a produção em no máximo três meses – mesmo nessa época de pandemia. O padrão normal da indústria é levar no mínimo de um a dois anos.

“Ou você faz um filme para ser uma obra de arte ou para ser legal. Eu faço para ser legal. E, para isso, você precisa segurar os custos. E ser rápido. Por isso, eu mesmo faço o roteiro, crio todas as entradas de publicidade. É um risco? É. Mas é um modelo que está dando certo”, afirma.

Aqui, aliás, Luccas Neto toca num ponto nevrálgico de todo seu negócio: a publicidade. Ele, que começou a vida vendendo tênis numa loja de shopping e faturando com organização de festas na faculdade (comprava cerveja barato e vendia caro), sabe que não é fácil fazer propaganda para crianças.

Seu mandamento número um é não depender de um único meio. “Antes de o YouTube cortar, em 2019, a monetização para conteúdo focado em crianças, eu já sabia que isso aconteceria e diversifiquei. Quando o corte aconteceu, só 15% do meu faturamento vinha da plataforma”, conta ele.

Hoje, a fonte do faturamento de sua empresa é pulverizada. O dinheiro vem de filmes para internet e streaming, séries, shows (ele fez vários no formato “drive-thru” na pandemia e ensaia uma retomada presencial para o meio do ano), aplicativos de celular, games e licenciamento. Seu maior projeto agora é o filme para cinemas que está criando com a Warner.

Quando faz a entrada de marcas e produtos em seu conteúdo, segue à risca a legislação. “A gente avisa que é patrocínio. Que é publicidade. E fazer propaganda não é ilegal. É só ter o cuidado de avisar que aquilo é um vídeo patrocinado”, afirma ele. O direcionamento também não é voltado para a criança. “É para o pai ou para a mãe. Isso é uma zona meio cinzenta na legislação, mas a gente procura ser direto aqui.”

O próximo passo da Luccas Neto Studios é a internacionalização de seu conteúdo. “Para isso, estamos focando na América Latina. Mas ainda estamos estudando como dublar, o que é uma coisa muito cara”, diz ele. Expandir seu público para adolescentes e até adultos também está na sua lista de desejos.

TERRA