Com o objetivo de acelerar a produção de cachaças, cientistas da USP desenvolveram método de “envelhecê-las” com radiação.
A fabricação é a mesma da aguardente tradicional, a diferença é que após ser destilada, a bebida é engarrafada e submetida a raios gama, dispensando a etapa de envelhecimento em barris, que pode durar anos.
O aparelho chamado irradiador ioniza os átomos da aguardente e provoca reações químicas que alteram sua acidez, teor alcóolico e sabor.
A quantidade de radiação chega a ser de 0,3 quilogray por dose. Segundo físicos, o nível é considerado baixo e seguro para o consumo humano, mesmo equivalendo a aproximadamente 10 mil tomografias computadorizadas.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Valter Arthur, do Laboratório de Radiobiologia e Meio Ambiente do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP, explica que uma das dificuldades da fabricação de cachaça ionizada é o alto investimento.
Um irradiador custa em média US$ 3,5 milhões. Por isso, Arthur acredita que uma solução seria criar centros de ionização que prestariam serviço para fabricantes de aguardente.
Outra questão é que a bebida ionizada é transparente e muitos fãs de cachaça de barril fazem questão do tom amarelado. A solução encontrada pelos pesquisadores foi deixar a bebida em barris de amendoim por seis meses até ela adquirir a coloração desejada. Os pesquisadores ainda estão trabalhando com essências e outros elementos para incrementar a bebida.
Em um teste cego com 40 alunos da USP, os pesquisadores dizem que não foram detectadas diferenças entre a bebida ionizada e a tradicional. No entanto, especialistas ouvidos pela Folha afirmaram que a cachaça irradiada não tem as mesmas peculiaridades da envelhecida naturalmente.
uol