Síndrome do Túnel do Carpo

Foto: Ilustrativa
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A Síndrome do Túnel do Carpo (STC) é uma condição clínica resultante da compressão do nervo mediano no túnel do carpo. A STC é a mais frequente síndrome compressiva de nervos periféricos 1(D). Estudos transversais têm demonstrado prevalência de 9,2% nas mulheres e 0,6% nos homens 2(B), com pico de incidência entre 50 e 59 anos 3(B). Os sinais e sintomas clínicos mais comuns da STC são: dor, hipoestesia e parestesia no território de sensibilidade do nervo mediano (particularmente no polegar, dedo indicador e médio e, face radial do dedo anular), com piora noturna dos sintomas.

Caracteristicamente, os sintomas de parestesia e dor noturna acordam o paciente durante o sono e melhoram com uso de tala para imobilização do punho e com movimentos da mão e do punho. A dor pode ter irradiação proximal para o braço e ombro. O paciente pode referir diminuição de força de preensão e, em estágios mais avançados, pode-se observar hipotrofia da musculatura tenar. Como hipóteses de sua etiologia estão o espessamento do tecido sinovial ou a compressão por outras estruturas no túnel do carpo, levando ao aumento continuado da pressão dentro deste túnel e que aumenta com posição de flexão ou extensão do punho. Embora a STC tenha grande repercussão clínica e de saúde pública, não há consenso quanto à melhor forma para diagnosticá-la.

1. O TRATAMENTO CIRÚRGICO DA STC É MAIS EFETIVO QUE O TRATAMENTO CONSERVADOR?

Houve regressão completa ou muito significante dos sintomas clínicos, favorável ao grupo tratado cirurgicamente (cirurgia aberta) comparado ao tratamento conservador com tala noturna, avaliando-se com três meses, seis meses e um ano de pós-operatório 4( A). Também houve melhora com a análise do exame de Eletroneuromiografia, favorável ao grupo cirúrgico. Durante o seguimento, nos pacientes do grupo cirúrgico, houve necessidade de reoperação em um paciente (1 de 87), dentre os pacientes tratados conservadoramente, 35 foram operados (35 de 89). No grupo cirúrgico, houve 56,6% de complicações e, no conservador, 51,7%, o que foi favorável ao grupo tratado com tala noturna, mas não foi estatisticamente significante (RR 1,29, 95% IC 1,00 a 1,66). A evidência atual demonstra que o tratamento cirúrgico (cirurgia aberta) proporciona melhores resultados, quando comparados aos pacientes tratados conservadoramente (imobilização do punho com tala) por seis semanas 5(A).

Recomendação:

O tratamento cirúrgico (cirurgia aberta) proporciona melhores resultados, quando comparados aos pacientes tratados conservadoramente (imobilização do punho com tala) por seis semanas.

2. O USO DA TALA PARA IMOBILIZAÇÃO DO PUNHO É EFICAZ PARA O TRATAMENTO DA STC?
O uso da tala noturna proporciona melhora dos sintomas da STC e da função da mão.

3. O USO DE ULTRASSOM (US) TERAPÊUTICO, LASER ACUPUNTURA OU YOGA É EFICAZ PARA O TRATAMENTO DA STC?
Na STC, o uso de US por sete semanas proporciona melhora global dos sintomas, em seis meses de seguimento. O uso de Laser Acupuntura não confere melhora aos sintomas, a Yoga pode aliviar a dor dos pacientes.

  1. O USO DE ANTI-INFLAMATÓRIOS, DIURÉTICOS, VITAMINA B6 E CORTICOSTEROIDES É EFETIVO PARA O TRATAMENTO DA STC?
    O uso de diuréticos, AINH e vitamina B6 não produz benefício aos pacientes com STC durante curto tempo de tratamento. Entretanto, a vitamina B6 por 12 semanas melhora o edema e a mobilidade dos dedos. O uso de corticoides orais por duas se-manas produz melhora dos sintomas e funcional da mão.

5. A INJEÇÃO LOCAL DE CORTICOSTEROIDE É EFICAZ PARA O TRATAMENTO STC?
A injeção local de corticosteroide de curta duração na STC melhora os sintomas. O uso de repetidas injeções não acrescenta benefício em relação a uma única aplicação.

6. QUAL É A MELHOR TÉCNICA DE TRATAMENTO CIRÚRGICO PARA A STC?
A opção da técnica a ser utilizada para o tratamento da STC deve embasar-se na experiência do Cirurgião e nas expectativas de cada paciente, pois a evidência atual demonstra não haver superioridade de uma técnica específica.

7. HÁ BENEFÍCIO EM SE REALIZAR A NEURÓLISE DO NERVO MEDIANO OU A TENOSSINOVECTOMIA DOS TENDÕES FLEXORES NA CIRURGIA DA STC?
Assim, consideramos que estes procedimentos (neurólise do nervo mediano ou a tenossinovectomia dos tendões flexores) associados à cirurgia convencional de ligamentotomia não devam ser utilizados rotineiramente, sendo reservados para pacientes com alterações específicas.

8. QUAL É O PROGNÓSTICO DOS PACIENTES COM STC TRATADOS CIRURGICAMENTE?
Na maioria dos pacientes com STC, o resultado do tratamento cirúrgico aberto é bastante satisfatório, com melhora clínica significativa com um ano de seguimento, em cerca de 70 a 90% dos pacientes operados 33(A) 34(B) 35(C). Entretanto, devemos ter como conduta que o tratamento dos quadros iniciais é consensualmente conservador. Os pacientes que não apresentam melhora com o tratamento clínico ou aqueles que no diagnóstico inicial apresentam sinais de longa evolução de STC são candidatos ao tratamento cirúrgico. Foram identificados 36(B) os fatores preditivos mais importantes nos resultados do tratamento cirúrgico da STC, sendo os mais fortes preditores de mau resultado e insatisfação com o tratamento cirúrgico:
– Pacientes com uso abusivo de álcool;
– Pacientes que apresentem restrições da qualidade de vida ou de saúde mental;
– Pacientes que recebam benefício trabalhista em razão da doença e que estejam sob orientação de advogados.

Recomendação:
Os pacientes que apresentam os fatores de risco (uso abusivo de álcool; restrições da qualidade de vida ou de saúde mental; ou que recebam benefício trabalhista em razão da doença e que estejam sob orientação de advogados) devem ser cuidadosa-mente avaliados, se necessário multidisciplinarmente e, devidamente esclarecidos sobre a maior probabilidade de insatisfação com o tratamento cirúrgico.

Dr. Marcel Rozin Pierobon
Neurocirurgião

Dr. Marcel Rozin Pierobon Neurocirurgião
Dr. Marcel Rozin Pierobon
Neurocirurgião

 

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