Menina tem vida nova após retirar pelos, diz pai: ‘Só tenho a agradecer’

 

Família se mudou para Goiânia para dar continuidade ao tratamento da filha. Kemilly nasceu com o corpo coberto de pelos devido a doença genética rara.

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Sete meses após o início do tratamento que removeu 100% do excesso de pelos no corpo da menina Kemilly Vitória Pereira de Souza, de 3 anos, os pais da criança relatam o impacto da repercussão do caso na vida de toda a família. “Eu só tenho a agradecer ao G1, porque depois que a história dela foi divulgada, ajudou a conseguir todo o tratamento e também acabar com o preconceito”, diz o pai Antônio de Souza.

A criança que nasceu com uma doença genética e hereditária chamada “hipertricose lanuginosa”, que a faz ter uma quantidade de pelos no corpo acima do normal, conseguiu tratamento gratuito para a remoção de 100% das pelugens em excesso. Ao longo de sete meses de tratamento, a garota já passou por nove sessões de laserterapia para conseguir remover os pelos corporais.

“A gente sai na rua e as pessoas perguntam como ela está, querem tirar foto com ela. Mudou completamente nossas vidas depois que o caso dela foi divulgado”, relata Antônio. Mas nem sempre foi assim. Nos dois primeiros anos de vida de Kemilly, olhares de espanto seguiam a família em todos os lugares. “A gente deixava de sair com ela para a pracinha ou qualquer outro lugar com medo do preconceito que as pessoas tinham com ela”, afirma o pai da criança

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Na primeira fase do tratamento, quando as pelugens mais grossas foram removidas, as consultas eram feitas no Hospital Materno Infantil. Atualmente, na segunda fase, onde são feitos retoques nas áreas já tratadas, uma clínica de estética se dispôs a continuar o tratamento gratuitamente. De acordo com o médico Zacharias Calil, que acompanha a criança, se a família tivesse que pagar, cada etapa poderia custar até R$ 6 mil.

Além de Kemilly, seus pais também receberam auxílio após a divulgação do caso. Eles relatam que diversas pessoas entraram em contato para oferecer passagens de Tocantins, onde a família morava, para Goiânia, local do tratamento, além de casa onde eles pudessem morar e emprego para o pai da criança.

Depois de quatro meses de sessões de laserterapia, tendo que vir à capital a cada 15 dias, a família, que é de Augustinópolis (TO), decidiu se mudar para capital goiana para dar continuidade ao tratamento de Kemilly. Há três meses na nova casa o pai da menina já se acostumou com a nova realidade: “Nossa vida já está entrando nos eixos e muita coisa aconteceu nesse tempo. Mas o que eu quero mesmo é o bem da Kemilly”.

Inseguro sobre o futuro de sua família ao deixar a cidade natal, pois teve que se separar de parentes e abandonar o emprego, Antônio contou mais uma vez com a ajuda de desconhecidos que se sensibilizaram com o drama de Kemilly. “Depois que o G1 fez uma matéria da nossa mudança para Goiânia e eu disse que estava precisando de emprego, poucos dias depois uma construtora me ofereceu emprego como eletricista”, conta.

Vaidade

Mesmo tão nova, Kemilly percebe o impacto das mudanças que ocorrem nos últimos sete meses. A menina que antes tentava arrancar com as próprias mãos os pelos corporais, hoje se troca em frente ao espelho, passando a mão pelo rosto, já sem pelugens e, segundo a mãe, Patrícia Batista Pereira, é bastante vaidosa.

A diferença também é notada no álbum de fotos. Desde o nascimento, os pais registram o crescimento da filha e também as etapas do tratamento com laserterapia. Ao olhar suas imagens antes do procedimento e olhar para o próprio corpo agora, ela aponta para os braços e pernas e balança o dedo em sinal negativo, mostrando que o que tanto lhe incomodava já não está mais lá.

“Eu também tenho muito pelo no corpo. Às vezes a Kemilly está no meu colo eu aponto para o meu braço e pergunto apra ela onde estão os pelos no braço dela e ela responde: ‘Acabou, não tem mais não’“, conta Antônio. “Você não imagina a felicidade quando ela está brincando com as outras crianças no nosso quintal e percebe que tem a pele igual à delas” completa.

A mãe da menina diz que desde o nascimento já percebeu que os pelos cobriam todo o corpo de Kemilly, mas que eles foram escurecendo ao longo do tempo. Ela se lembra que, ao chegarem a parquinhos públicos com a filha, as outras crianças se assustavam e se distanciavam da menina.

Outros pais também olhavam assustados e toda essa situação deixava Antônio e Patrícia constrangidos. Ainda segundo a dona de casa, ela já chegou a chorar de tristeza pela maneira como os outros tratavam sua filha. Devido a isso, os pais chegaram a esconder Kemilly dentro de casa para evitar comentários e reações preconceituosas na rua.

Tratamento

A previsão do médico Zacharias Calil é que todo o tratamento de Kemilly dure aproximadamente mais dois anos. Porém, com o progresso das etapas, o tempo entre cada consulta pode ser reduzido a uma vez a cada mês.

“O que mais chama a atenção no caso dela é a raridade da síndrome. Poucos profissionais no mundo têm experiência nesse tipo de doença, então ninguém tem uma maneira exata de como tratá-la e de que passos exatos seguir. Porém, com a Kemilly, estamos tendo bons resultados”, explicou Zacharias Calil.

Apesar do progresso, ainda não se pode afirmar que a remoção dos pelos será definitiva. “É uma doença genética, então não há como destruir o gene que causa a síndrome, mas já avançamos muito. Em áreas onde os pelos eram muito espessos como nas costas, eles demoraram a crescer novamente e quando voltaram, já eram mais finos”, ressaltou Calil.

Na segunda etapa do tratamento, uma clínica de estética especializada em depilação a laser ofereceu ajuda à família. No local, a menina deve passar pela remoção de pelos na área das sobrancelhas, buço, orelhas, e dedos.

“Acompanho o trabalho do doutor Calil e ele já mudou a vida dessa criança. O que falta é a questão estética, que fica difícil de fazer em função do equipamento usado no HMI. Como aqui nós temos todos os aparelhos de ponta para esse tipo de tratamento, decidimos ajudar”, relatou ao G1 a médica Paula Azevedo Costa, que é membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia (SBLMC).

Fonte: G1