Estudante transexual processa boate após ter que pagar por ingresso masculino

“Se não vão aprender a me tratar adequadamente por bem, então infelizmente eu vou ter que recorrer à Justiça”

Uma transexual processou uma boate de Campinas, São Paulo, após se sentir constrangida na entrada do estabelecimento. A estudante de arquitetura Bruna Bacci Brunelli foi obrigada a pagar pelo ingresso masculino para entrar na casa noturna Banana República. A jovem chegou a apresentar um laudo psicológico que atesta sua identidade feminina. A ação contra o estabelecimento foi protocolada na sexta-feira (20) e será analisada por um juiz antes da direção da boate ser oficialmente notificada.

“Ela [atendente] começou a falar com a outra caixa me tratando no masculino. Eu peguei meu laudo, que diz que eu tenho um transtorno de identidade de gênero e explica que eu devo ser tratada como uma mulher. (…) Mostrei, foi ignorado e acabei aceitando pagar como homem. Mas é muito conveniente pra eles né, já que homem paga quase o dobro”, contou Bruna ao G1. O processo exige o pagamento de uma indenização de R$ 15.575 por danos morais.

Transexual processa casa noturna após comprar ingresso masculino (Foto: Reprodução/Facebook)
(Foto: Reprodução/Facebook)  – Fonte: correio24horas

Ao chegar na boate, a estudante apresentou o RG, que ainda traz seu nome masculino, uma vez que o processo para a troca definitiva do nome e sexo ainda está em andamento. Isso levou a atendente a questionar a identidade da estudante. Bruna disse que já havia frequentado o local outras vezes e que ainda não havia passado por esse tipo de situação, que definiu como constrangedora.

A direção da Banana República informou que adotará mudanças na cobrança dos ingressos para que transexuais paguem segundo o gênero. “A gente vai ter que readequar, para não ter esse tipo de constrangimento. Mediante a situação de laudo, vou providenciar o ingresso [segundo o gênero]”, garantiu o diretor artístico da boate, Emerson Correa, ao G1.

Bruna disse também que o preconceito continuou após a sua entrada na casa noturna. “Lá dentro as pessoas ficaram olhando. Foi algo muito constrangedor para mim (…)  Se não vão aprender a me tratar adequadamente por bem, então infelizmente eu vou ter que recorrer à Justiça”, afirmou.

Ela ainda encontrou dificuldades ao chegar na Delegacia da Mulher para registrar o boletim de ocorrência. O caso precisou ser encaminhado para outro distrito policial em função do “sexo masculino” oficial. O “gênero feminino” de Bruna só foi registrado no boletim porque ela insistiu.

“Eu pedi assim: ‘eu quero que você coloque sexo feminino.’ Aí ela falou: ‘olha, eu não consigo alterar porque ele já vem automático do sistema. Eu posso colocar em observações. Como que você quer que eu ponha? Sexo transexual?’ Aí eu falei: ‘primeiro, transexual não é sexo (…).’ Não tinham o menor preparo para fazer isso”, reclamou.