Centros para transplante de medula na Bahia são insuficientes, aponta médico do Hospital das Clínicas

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O Estado da Bahia possui duas unidades que realizam transplante de medula óssea. Segundo a Sesab (Secretaria de Saúde do Estado da Bahia), o procedimento pode ser realizado no Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia e Hospital São Rafael, onde o transplante pode ser realizado pela rede privada.

A quantidade é considerada insuficiente pelo coordenador do setor de oncohematologia do Hospital das Clínicas, Marco Aurélio Salviano.

— No Estado, nós somos o centro de referência de hematologia, mas não é um centro suficiente para todo Estado. Então, tem se discutido muito nos últimos anos na busca de crescimento dos centros que já existem, dos poucos que já existem, que não são suficientes ainda, e criação de novos centros. É um desafio.

O médico também chama a atenção para a falta de centros de hematologia. Para Salviano, mas do que centro de transplante, o paciente precisa de um centro de hematologia.

— Você não vai transplantar sem ele tratar a leucemia no centro de hematologia. Então, você precisa ter maior número de centros, mais leitos de hematologia, para até mais gente chegar ao transplante.

A Sesab admite que grande parte dos casos com criança e adultos que recorrem ao banco de doadores tem que deixar o Estado para realizar o transplante de medula.

— A maioria dos transplantes pediátricos dos casos são encaminhados para outros Estados e também alguns adultos que necessitam de transplante alogênico (quando o doador da medula é outra pessoa). Mensalmente, são realizados quatro transplantes na Bahia, sendo um por semana, em média. Atualmente, 60 pacientes aguardam doador compatível no Rereme (Registro de Receptores de Medula).

O tempo de espera não pode ser mensurado, pois depende da compatibilidade genética. A Sesab explica que, “no caso do transplante alogênico, quando o doador é outra pessoa, podendo ser parente ou não, a demora depende da identificação do doador compatível”.

Como é feito?

A medula, líquido viscoso que tem dentro de alguns ossos, pode ser coletada por meio de punção na bacia, aférese de células tronco (coleta através do sangue) e do cordão umbilical. Hoje, a técnica mais realizada para o transplante de medula é a aférese de células-tronco. Salviano afirma que a fonte é mais utilizada por conta da facilidade, dos riscos e logística.

—Você estimula a medula a produzir tanta células-tronco, um remédio que estimula a medula a jogar células-tronco pro sangue, e colhe do sangue.

O transplante pode ser autólogo (usar as células-tronco da pessoa para ela mesma) ou alogênico (quando recebe de parente ou banco). Mas, a chance de achar um doador compatível depende da carga genética e não é muito animadora. Em uma família, por exemplo, irmãos com os mesmo pais têm 25% de compatibilidade.

Para alívio de quem precisa do transplante, a ciência avançou e, segundo Salviano, hoje já é possível fazer transplante com alguém que não é 100% compatível.

— A grande inovação dos últimos cinco anos é o transplante 50% compatível entre os irmãos, ou entre os pais, entre familiares. Esse transplante é o haploidêntico.

Noventa mil baianos estão cadastrados como doadores voluntários no Redome (Registro de Doadores de Medula), de acordo com a Sesab. O Brasil possui o 3° maior banco de doadores voluntários de medula óssea, com cerca de dois milhões e quinhentos mil doadores.