A associação entre Apnéia do Sono e Doenças Cardiovasculares

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A síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAHOS) é uma condição prevalente na população, associada a maior risco cardiovascular, freqüentemente não diagnosticada. O reconhecimento da síndrome requer alto grau de suspeita clínica, especialmente por cardiologistas, e pode ser confirmada por meio da polissonografia. O tratamento da síndrome com o uso de CPAP (pressão positiva na via aérea superior) é altamente eficaz, melhorando o padrão respiratório durante o sono, instituindo o sono reparador e, dessa forma, otimizando a qualidade de vida desses pacientes, além de atenuar ou reverter muitas das complicações cardiovasculares relacionadas a SAHOS.

A SAHOS é caracterizada pela obstrução completa ou parcial recorrente das vias aérea superiores durante o sono, resultando em períodos de apnéia, dessaturação de oxiemoglobina e despertares noturnos freqüentes com conseqüente sonolência diurna.

Apresenta predileção pelo sexo masculino, e a incidência nos homens e mulheres de meia-idade varia na literatura entre 1% e 5% e 1,2% e 2,5%, respectivamente, podendo aumentar com a idade. Associa-se freqüentemente a outras doenças cardiovasculares, estimando-se que 40% dos pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica apresentam SAHOS associada, não-diagnosticada e não-tratada.

As principais conseqüências cardiovasculares são: alterações no sistema nervoso autonômico, hipertensão arterial, arritmias cardíacas, doença arterial coronária, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca congestiva.

SAHOS é fator de risco independente para hipertensão arterial sistêmica (HAS). A prevalência da HAS em portadores da SAOS varia de 40% a 90%, e o inverso, a prevalência da SAOS entre portadores de HAS, é de 22% a 62%.

Estudos recentes confirmam essa alta prevalência entre ambas as condições e mostram que, em um período de quatro anos, aqueles indivíduos com um índice de apnéia/hipopnéia (IAH) maior que quinze por hora de sono têm um risco três vezes maior (45% de probabilidade) de desenvolver HAS. Um estudo de 44 pacientes portadores de HAS resistente à medicação mostrou que 83% apresentaram SAHOS.

O CPAP (contínuos positive airway pressure) tem se mostrado eficaz no tratamento dos pacientes portadores de SAHOS e HAS.

Entre os indivíduos com acidente vascular cerebral (AVC), a incidência de distúrbio respiratório do sono pode ser maior do que 50%, com predomínio da forma obstrutiva. Provavelmente a SAHOS contribui para a ocorrência de AVC por vários mecanismos: hipertensão arterial sistêmica, aumento da agregação plaquetária, hipercoagulabilidade sangüínea, disfunção endotelial, dentre outros. Além disso, durante a apnéia ocorre um decréscimo no fluxo sangüíneo cerebral secundário à redução no débito cardíaco, que pode predispor indivíduos de risco ao AVC, como os portadores de lesões ateromatosas de circulação carotídea e vertebral.

Vários estudos também mostraram importante associação entre a insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e SAHOS. No estudo Sleep Heart Health, detectou-se que em pacientes apnéicos com IAH > 11/hora o risco para desenvolver ICC foi de 2,38, independentemente de outros fatores de risco estabelecidos.

Finalmente, o diagnóstico dos distúrbios respiratórios do sono em pacientes portadores de doenças cardiovasculares, pode trazer importantes informações prognosticas e uma opção terapêutica potencial para esse grupo de pacientes.

Dr. Emerson Henklain Ferruzzi
Especialista em Medicina e Distúrbios do Sono

 

Por saudeatual