Doença que matou criança de Corumbá se manifesta 3 semanas após contato com a Covid

Vítima estudava em escola municipal com cerca de 1 mil alunos e frequentava as aulas
13/09/2021 13:32 – Rodolfo César


A Secretaria Municipal de Saúde de Corumbá confirmou nesta segunda-feira (13) que a doença que causou a morte de uma menina de 6 anos ocorre de forma silenciosa e se manifesta apenas de três a quatro semanas após o contato com o vírus SARS-CoV-2, que causa o novo coronavírus.

A manifestação pública da Prefeitura de Corumbá ocorreu porque vinha sendo ventilado que o que causou a morte da criança havia sido outra doença que não fosse a covid-19.

O laudo da morte da criança indicou que o falecimento ocorreu após complicações causadas pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P).

“A doença está associada ao coronavírus, com manifestações tardias após a infecção, que costuma aparecer de três a quatro semanas após o contato com vírus, podendo ou não a criança ter apresentado sintomas respiratórios de Covid-19”, detalhou a Secretaria Municipal de Saúde de Corumbá, em nota.

A criança não manifestou sintomas comuns e atribuídos à covid-19. Ela estava frequentando a aula normalmente na Escola Municipal Izabel Correa de Oliveira até o dia 25 de agosto.

No dia 26, a menina passou mal e os pais a levaram  no Pronto-socorro Municipal, que fica na Santa Casa de Corumbá. O teste rápido deu negativo para covid-19. Na época, a menina tinha vômito, febre, dor de garganta e tinha convulsionado.

Ela permaneceu internada na Santa Casa de Corumbá, mas como o quadro agravou-se, acabou transferida para o Hospital Regional, em Campo Grande. Quando ainda estava na Capital do Pantanal, houve coleta de material encaminhado para o Laboratório Central (Lacen).

O resultado RT-PCR para o vírus SARS-CoV-2 deu positivo em 30 de agosto, conforme a Secretaria Municipal de Saúde.

A menina foi transferida para Campo Grande para continuar o tratamento no dia 29 de agosto, três dias após ter sido internada. Ela veio a falecer neste sábado (11) e foi a primeira vítima falta infantil de Covid-19 que Corumbá registrou desde o início da pandemia na cidade, em abril de 2020.

A escola onde a aluna estava matriculada é tradicional na cidade e fica no bairro Popular Nova. A unidade de ensino tem matriculado mais de 1 mil alunos e pertence ao quadro da rede de ensino desde 1973.

A Escola Municipal Izabel Correa de Oliveira tem salas da pré-escola até a 9ª série, além de educação de Jovens e Adultos (EJA). Funciona nos três períodos com 57 professores, 17 funcionários administrativos, cinco coordenadores pedagógicos, uma diretora e uma diretora-adjunta.

A Secretaria Municipal de Educação divulgou que continua seguindo os protocolos de biossegurança elaborados conjuntamente com o Comitê Municipal de Retorno Gradual das Aulas Presenciais no Município de Corumbá (CRGAP).

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Conforme a direção escolar, a aluna não apresentava nenhum sintoma até o último dia que frequentou presencialmente as aulas e por isso não houve alerta anterior. Após o diagnóstico, as aulas não foram paralisadas.

“A Secretaria Municipal de Educação também foi orientada a reforçar com os alunos, pais e responsáveis da Rede Municipal de Ensino (REME) sobre a importância da vacinação a partir dos 12 anos de idade e da realização da testagem em casos suspeitos com sintomas gripais nas Unidades Básicas de Saúde”, divulgou a Secretaria de Educação em nota oficial emitida no começo da tarde desta segunda-feira (13).

O prefeito Marcelo Iunes (Podemos) também emitiu nota nesta segunda-feira para lamentar a morte da criança e pedir que a população que está apta a se vacinar, procura uma unidade de saúde. “Lamentamos profundamente o óbito desta criança, me solidarizo aos pais, familiares e amigos.

Faço um apelo a toda população corumbaense: ainda não está autorizada pelo Ministério da Saúde a vacinação de crianças menores de 12 anos, mas há muita gente que já deveria ter ido se imunizar e ainda não foi”, afirmou o prefeito.

Segundo a Prefeitura de Corumbá, 2.921 pessoas que podem receber a dose de reforço na cidade ainda não procuraram a imunização. Esse público representa em idosos a partir dos 60 anos que tomaram vacina há pelo menos cinco meses.

Desde quando começou a pandemia na cidade, em abril de 2020, 464 pessoas já morreram por complicações atribuídas à covid-19. São 15.535 moradores que foram diagnosticados com a doença desde o início da pandemia.

Atualmente os registros estão baixos e o boletim deste domingo (12) aponta que uma pessoa testou positivo em 9 de setembro. Esse foi o último dia com caso confirmado.

O Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação de Corumbá (Simted-Corumbá) informou nesta segunda-feira (13) que as escolas municipais ainda não têm condições plenas de atuar com os procedimentos de biossegurança.

“O Simted se posicionou contra o retorno presencial, já que sabemos que as escolas públicas, principalmente as municipais, não têm condições de atender os protocolos de biossegurança. Há denúncias de que as escolas não têm pessoal de limpeza o suficiente, nem materiais de limpeza, nem recursos. Não houve adequações estruturais nas escolas”, criticou o presidente do sindicato, Gabriel Omar.

Monitoramento da SIM-P

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) monitora os casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) desde setembro de 2020. Na Europa, durante o pico da covid-19, essa doença foi registrada a partir de abril e atribuída ao novo coronavírus.

O Ministério da Saúde já tinha até publicado um alerta sobre o SIM-P em 20 de maio e identificado casos no país desde então.

Desde 24 de julho, a síndrome passou a ser monitorada, com informação compulsória a ser enviada para o Ministério da Saúde a partir de formulário padronizado.

“A implantação da notificação justifica-se visto que os fatores de risco, a patogênese, o espectro clínico, o prognóstico e a epidemiologia da SIM-P são pouco conhecidos e por se tratar de uma doença emergente potencialmente associada à COVID-19”, informou o Ministério da Saúde à época.

Conforme a Fiocruz, a SIM-P possui diferentes sintomas, como febre persistente acompanhada de um conjunto de sintomas que podem incluir gastrointestinais, com dor abdominal, conjuntivite, exantema (rash cutâneo), erupções cutâneas, edema de extremidades, hipotensão, dentre outros. Não se verifica sintomas respiratórios em todos os casos.

“Há importante elevação dos marcadores inflamatórios e o quadro clínico pode evoluir para choque e coagulopatia. Embora tenha o quadro clínico bastante semelhante à síndrome de Kawasaki completa ou incompleta, a SIM-P geralmente ocorre em crianças mais velhas, com alterações evidentes dos marcadores inflamatórios e importante disfunção cardíaca. A maioria dos casos relatados está acompanhada de exames laboratoriais que indicam infecção pelo SARS-CoV-2 ou vínculo com pessoas adoecidas pela covid-19”, detalhou a Fiocruz, em nota publicada em seu site.

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